Marcelo Alves Teodoro
Doutor em Geografia, Professor da Escola Sesi - Concórdia
Abaixo você pode conferir uma pesquisa realizada pelo Marcelo Alves Teodoro - Doutor em Geografia e professor da Escola Sesi - Concórdia, o qual aborda alguns fatores que podem ter ocasionado a catástrofe no Rio Grande do Sul.
Introdução
O estado do Rio Grande do Sul enfrenta a pior catástrofe de sua história. Para explicar o porquê desse processo recorre-se a alguns conceitos que, juntos, esclarecem o grande volume de chuvas que caiu no início do mês de maio de 2024. O primeiro é as massas de ar, o segundo o fenômeno El Niño, o terceiro as ondas de calor e, por fim, as mudanças climáticas.
Junção de fatores que explicam a catástrofe
As massas de ar são responsáveis por distribuir umidade e temperatura no Planeta Terra. No Rio Grande do Sul, as massas de ar que têm atuado nesse mês de maio são massas de ar frio da Argentina, massas de ar vindas da Amazônia e massas de ar vindas do Oceano Atlântico. Todas essas massas foram responsáveis por transportar uma grande quantidade de umidade para o estado gaúcho. Destaca-se, as massas vindas do Oceano que estão sendo potencializadas pelo fenômeno El Niño, que está em sua fase final (CPTEC, 2024).
Para contextualizar, o El Niño é um fenômeno que ocorre no Oceano Pacífico e aquece a temperatura das águas acima da média histórica observada (CPTEC, 2024). Esse processo, influência diretamente na circulação das correntes marítimas dos oceanos. Na costa brasileira, as águas que chegam mais aquecidas evaporam mais intensamente, sobretudo, na porção sul do Brasil. Logo, essa água evaporada contribui para a formação de massas de ar úmido, intensificando as chuvas na porção continental mais próxima do oceano.
Mapa 1: Efeitos globais do El Niño na metade do ano.
Mapa 1: Efeitos globais do El Niño na metade do ano.
A concentração da umidade no Rio Grande do Sul, no mês de maio de 2024, tem como principal explicação a onda de calor que estacionou na porção central do Brasil, desde o fim do mês de abril. De acordo com o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) a nomenclatura de Onda de Calor ocorre quando a previsão indica que as temperaturas (neste caso, especialmente as máximas) ficam 5ºC acima da média mensal pelo período de, no mínimo, dois a três dias consecutivos (INMET, 2024). A concentração de ar quente na região central do Brasil impediu que as massas de ar frio e úmido que estavam passando pelo Rio Grande do Sul se espalhasse pelo território brasileiro, o ar quente formou uma espécie de barreira a entrada de ar de outras regiões.
Mapa 2: Indicação de massa de ar quente na região central do Brasil
Mapa 2: Indicação de massa de ar quente na região central do Brasil
Por fim, deve-se mencionar que todo esse processo de intensificação do El Niño, massas de ar carregadas com grande umidade e ondas de calor intensas e prolongadas tem como principal causa, as mudanças climáticas. Tal conceito, é definido pelas transformações a longo prazo dos padrões de temperatura e clima do Planeta Terra (ONU, s./d.). Têm-se observado que esse processo surgiu, após a Revolução Industrial, mas, foi na segunda metade do século XX e início do XXI que os cientistas passaram a alertar sobre a urgência de adotar novas práticas de desenvolvimento sustentável na sociedade.
Dentro dessas práticas, o planejamento territorial e urbano se torna uma necessidade urgente para os órgãos públicos enfrentarem e conter os impactos das mudanças climáticas na sociedade. A catástrofe do Rio Grande do Sul, infelizmente, revelou diversos problemas que as cidades podem enfrentar com as mudanças climáticas, no século XXI. Portanto, a aprendizagem que devemos tirar desse momento de impactos incalculáveis é que as mudanças climáticas é algo real e que ações devem ser executadas para evitar novas catástrofes.